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É só a MINHA opinião

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"Soa engraçado, parece piada, mas, na Câmara, discute-se religião, oração e faz-se leitura da Bíblia, enquanto, nas igrejas, púlpitos são usados como tribunas". Não é um sonho de todo mundo, mas algumas pessoas, em algum momento, despertam interesse por debates políticos – ainda que, naquele instante, não saibam definir suas pautas como política – e isso as acompanha até que sejam capturadas por outro alguém, geralmente vinculado, fisiologicamente, a uma sigla partidária. A receita para um candidato a vereador começa aí: uma irresignação individual associada ao coletivo e, subitamente, abocanhada por um partido político. A ideia de multipartidarismo funciona bem quando se eleva o pensamento a uma sublimação conceitual e altruísta de política – bem diferente da que se pratica na República Federativa do Brasil, que prefere aplicar o fisiologismo político: essa cena dantesca de aproximação por puro interesse individual, com vistas à obtenção de favores e trocas escusas, tudo às ...

Nos telhados de Ilze Scamparini

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"Crônica sobre infância, imaginação e viagens que começam antes do passaporte"... Entre as memórias de infância estão aquelas em que, segurando o microfone – uma pequena vareta de antena de televisão com uma bolinha de espuma velha de algum colchão na ponta –, a repórter internacional, espécie de Ilze Scamparini mirim, noticiava fatos, viajando em mirabolantes pensamentos por lugares do mundo inteiro. Às vezes de pé nalguma pedra ou às margens da lagoa onde se criavam os peixes, as aparições da repórter se davam nesses ambientes que em nada ficavam devendo aos charmosos telhados italianos de Ilze. A correspondente, à época com seis anos, passeava por aeroportos observando as multidões, a reboque era conduzida pela imaginação e a pergunta constante: “para onde estão indo?”. Verdade mesmo é que, apesar de viajar tanto, nossa pequena cover de Ilze Scamparini jamais deixou as fronteiras de sua terra natal, Taquarinha; suas jornadas pelo mundo aconteciam dentro dela, reproduzindo ...

Hoje faço a mala. Amanhã viajo para a Bahia.

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...amanhã viajo para a Bahia numa daquelas viagens que costumo fazer ao menos uma vez por ano; a preferência é por praia – tenho cometido o pecado de não ver o mar aqui no Espírito Santo. Lamentável. Eu sei. Ontem à noite, na tentativa de adiantar as coisas, lavei a roupa e fiz as unhas, usei esmalte vermelho e até que ficou bom, mas a busca por uma inexistente perfeição me fez enxergar tantos defeitos que esse “até que ficou bom” está ecoando na cabeça como um “vamos tirar isso e fazer de novo”. Saí pela manhã e deixei a roupa limpa no varal, não secou durante a noite – essa é uma saudade que prevejo ter quando os dias de inverno chegarem. É tão comum dizer sobre o tempo e a forma como passa rápido – a viagem para a Bahia está prevista há quase um ano e já é amanhã – a gente fala, entretanto, percebe mesmo que o tempo passa quando a vida não existe mais. Hoje acordei num misto de sentimentos, certamente, acentuados pelos hormônios em ebulição do período menstrual, contudo independente...

Sempre Livre

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Meses atrás lembro de ter ido à academia, como de costume, e me sentir mal por conta da cólica menstrual e daquele desconforto pelo uso do absorvente durante o treino. A briga era entre a capacidade de absorção daquela “fraldinha” e o fluxo, que a cada agachamento parecia, literalmente, esguichar.  Aos onze anos, véspera de Natal, estava na casa de minha avó materna – vovó Zelinda – quando fui ao banheiro e percebi o tom mais avermelhado do xixi na louça branca do vaso sanitário. Desconfiada do que poderia ser, falei com minha mãe e avó sobre o ocorrido e, então, veio a sentença: “virou mocinha!”. Meu primeiro absorvente foi um paninho dobrado algumas vezes repousado sobre a calcinha – sem qualquer aderência ou forma de fazê-lo ficar preso ali. Em seguida, conheci os absorventes industrializados, notei que a cobertura suave é mais adequada à minha pele por não me causar tanta irritação, porém admito: a relação mensal com a menstruação nunca foi algo fácil, seja pelos episódios de d...

De volta à praça

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(O título dessa crônica é de autoria do Gabriel, jovem de 15 anos, morador do bairro Zumbi, em Cachoeiro de Itapemirim. Gabriel e eu nos conhecemos durante oficina de escrita criativa que tive a honra de conduzir na Unidade de Internação Provisória, do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo). Hoje, enquanto almoçava no shopping Cachoeiro, um pensamento distante veio à tona; lembrei de quando almoçar naquela praça de alimentação era algo que estava muito além das minhas possibilidades financeiras. Em dezembro 1995 o shopping, recém-inaugurado, tinha aquela conotação de novidade – o cachoeirense entende o que estou dizendo – o point do momento era frequentar o shopping, olhar as vitrines, era um passeio importante na minha dimensão de criança à época com dez anos. Em algum lugar do passado, na mesma praça de alimentação, seria exibido o filme Titanic, uma febre quase tão ardente quanto a paixão de Jack e Rose eternizados por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Na oportu...

Olhou se não tem algum furo?!

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Ensinamentos de mãe a gente vai levando pela vida inteira, ao menos levo os que ela me   trouxe – e ainda traz – apesar de alguns, vez ou outra, não fazerem tanto sentido assim para mim. Para a reflexão de hoje, vou me ater a dois conselhos – naquela época eram ordens – recebidas de mamãe, quase que diariamente, quando garotinha. Como se fosse ontem, lembro de minha mãe fazendo a seguinte orientação quando estávamos prestes a sair de casa – para passeio ou missa, ficar na casa de alguma tia – não importava o evento: “ você vestiu a calcinha certa? Olhou se não tem algum furo? ”. E a explicação vinha em seguida: “ porque se acontecer alguma coisa e tiver que te levar no médico, tem que estar com a roupa boa ”. Hoje, avaliando friamente, me pergunto se mamãe estaria aflita com um possível acidente ou com a vergonha de alguém ver a filha dela com uma calcinha furada?! De certo ela pensava em ambas as situações! Outra recomendação que não esqueço – essa faz mais sentido, inclusive...

Aqueles sábados...

. .."ela teimou e enfrentou o mundo se rodopiando ao som dos bandolins". Sábado, 25 de janeiro de 2020 . Em casa as notícias chegavam por toda parte; no WhatsApp os grupos encaminhavam vídeos, fotos e áudios que, ao serem baixados, davam conta da tragédia. À medida com que as águas do Itapemirim inundavam a cidade, as galerias de celulares transbordavam aqueles arquivos de uma das notícias mais tristes já recebidas pelos cachoeirenses: o Rio Itapemirim, manso, de pequenas quedas entre pedras, havia se transformado com ferocidade inimaginável! Os doze metros acima de seu nível varreram o centro da cidade como nunca – sem qualquer exagero – se tinha visto. Domingo, 26 de janeiro de 2020 . Por volta das quatorze horas, após uma longa noite de angústia, o Itapemirim parecia se reencontrar em suas margens. No grupo de trabalho nos organizamos para a missão, que apenas mais tarde, entenderíamos seu verdadeiro significado; calcei botas emborrachadas, calça, uma blusa mais surrada, a...